sexta-feira, 8 de maio de 2009

Conto de um pássaro

Um belo dia sai de casa pela manhã, não sei ao certo o horário, como de costume haviam vários pássaros nas árvores e nos fios dos postes, mas havia um pássaro desses ,que neste dia, me chamou mais atenção que os demais, um pássaro que eu sabia que era diferente, mas ao mesmo tempo parecia-me tão banal quanto os outros que ali também cantavam, mas o canto desse pássaro estava diferente, tão triste, tão soturno, tão só, enfim me chamara tanto a atenção que eu fiquei ali parado ouvindo aquele canto que me passava toda a agonia daquela pobre ave, logo percebi que ele estava mais afastado dos demais, sendo que alguns pássaros paravam no mesmo fio que ele, mas logo iam embora para outros fios ou árvores daquele lugar.
Vi nos olhos daquele pássaro que estava algo faltando, mas não consegui saber ao certo o que era, mas estava algo faltando, mas resolvi não ficar parado ali e fui à diante seguindo minha vida. Na volta pra casa olhei pro mesmo fio que antes o pássaro estava, mas não havia nada ali, e foi assim por dias, mas eis que quase duas semanas depois eu escuto o mesmo canto sofrido, olhei então da janela de minha casa para o mesmo fio e lá estava ele, cantando com a mesma tristeza e o mesmo vazio nos olhos, mas dessa vez o passarinho estava diferente, seu olhar se dirigia a outro pássaro do outro lado, procurei o que os olhos do pássaro fitavam e reparei em uma esplendorosa avezinha, mais bonita que muitos canários e outros pássaros exóticos que eu já tenha visto, com um canto muito formoso também. Então continuei observando o pássaro cantando seu lamento para a linda ave do outro lado da rua. No outro dia esperei ver tal relacionamento na janela de novo, mas sem sucesso, só encontrei a linda fêmea só, mas como se nada estivesse acontecido ou mudado no seu dia-a-dia. E no dia seguinte só apareceu o mesmo passarinho com seus cantos, mas nesse dia ele não demorou, em poucos minutos ele se foi, me pareceu que ele estava a esperar a fêmea, "mas que pássaro sem sorte" pensei eu.
Foram dias assim, o pássaro sem sorte não apareceu e a fêmea aparecia esporadicamente, acho que o pássaro desistiu, mas eis que um mês depois aquele mesmo pássaro resurge, fraco, magro, parecia-me que estava com alguma enfermidade, parecia que tinha viajado léguas e mais léguas, ele estava encolhido num galho de uma árvore, com frio e com certeza com fome, solitáriamente o pássaro tenta cantar, mas sem forças não conseguia entoar seu canto com tanto volume quanto antes, mas ele insistentemente tentava, parecia que estava a chamar alguém, mas do nada ele parou, se encolheu e colocou sua pequenina cabeça em baixo de suas asas, creio que desistiu. Entre idas e vindas na janela eu olhava para o pássaro que continuava estático naquele galho, começou a chover e nada do pássaro se mover, morto não estaria pois se não ele não ficaria no galho e logo cairia no chão, logo lembrei que aquele era o galho em que a bonita fêmea costumava ficar, matei a charada, ele estava esperando ela e ele ficou ali, naquele mesmo galho o dia todo. A noite chegou e o pássaro nada de se mover, cansei de observar e a claridade não era a mesama, por isso não o vi mais a noite toda. Chegando pela manhã, fui a janela e não vi o pássaro mais no mesmo lugar que no dia anterior, pensei "Deve ter desistido". Mas eis que de tarde chega ele e pousa no mesmo galho e fica, porém sem nenhum sinal da fêmea.
Eis que um dia ele a encontra, ela estava num galho mais distante, e ele danou a cantar, tentando assim chamar a atenção da fêmea, mas ela não ligava para ele, "pobre pássaro" pensei eu, porém ele não compartilhava do meu achismo, e de tanto insistir, lá vai ele ganhando a atenção da fêmea, ela o olhou e olhou enquanto este entoava seu canto, que dessa vez não foi lamuriante ou tristonho, mas uma coisa viva, cheia de cores e sentimentos. Quando ele parou com seu canto, já sem folego, a fêmea vai ter com ele no mesmo galho, percebi que o pássaro estava feliz, seu olhar era outro, seu aspecto já mudara, nem parecia a abatida ave de dias atrás. E assim foi nos dias seguintes cantos alegres de tal passarinho em dueto com sua amiga.
O pássaro radiante retornava todos os dias pontualmente para o mesmo local e logo em seguida a fêmea aparecia, para alegria do macho. Porém, um dia ele apareceu, mas a fêmea não apareceu, ele esperou, esperou e esperou, sua espera transformou-se em angústia, em seguida esta se transformou em tristeza e desespero, pois a tarde estava a acabar e nada da parceira do pássaro aparecer. E ele ficou cabisbaixo, e não demorou muito a entoar seu cântico de tristeza e solidão. Foi assim por dias, e de súbito a fêmea apareceu, mas pra surpresa do pássaro ela veio acompanhada de outro pássaro, mais bonito, vistoso e com o canto tão bonito quanto o do pássaro sofrido. Foi o fim, ele isolou-se num canto da árvore, onde não havia cobertura para chuva, nem sombra para o sol e lá ficou, tendo o calor do sol, o sereno da lua e as gotas de chuva como companheiros.
Mas certo dia ele voou, passou vários dias sem aparecer por aqui, retornou diferente, porém triste como sempre e em seu olhar vi o mesmo vazio que antes, e ele voltou a cantar triste e melancólicamente, desta vez eu entendia cada nota daquele pássaro, notas de solidão e falta do amor que antes alegrava sua vida e seu canto. Um dia fuia praça, e lá ouvi o mesmo canto que antes, o sofrido canto do pássaro, pois então era ele e encontrei lá também a fêmea que era a sua amada, porém nesse dia a praça estava cheia de meninos, um desses portava consigo um estilingue, este caçava pássaros, mais assustava-os do que acertava-os, contudo o menino viu o pássaro e sua tristeza, mirou seu estilingue para o pássaro e soltou a pedra, no caminho da pedra até o pássaro só deu tempo para mais um canto e um suspiro e lá estava a ave silenciada no chão, percebi que a fêmea havia paralisado, atônita, olhando e não mais cantando. A praça esvaziou, o menino foi para casa e lá deixou o corpo do pássaro, a fêmea por sua vez não moveu uma pena, no olhar dela percebi o mesmo vazio que antes vira somente nos olhos do pássaro, o formoso pássaro que a acompanhava abandonaste a mesma e ela não se importou com tal fato. Eu peguei o pássaro esfalecido e enterrei-o em um lugarzinho em frente em minha casa, o mais perto do lugar onde eu o vi pela primeira vez. E desde então eu escuto o mesmo cantar triste daquele pássaro, só que quem o entoa dessa vez é a fêmea, com o mesmo vazio nos olhos e notas tristes a sair bico a fora.

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